Ayrson Heráclito no Senegal
No dia 4 de abril, Ayrson Heráclito dá início a sua residência de dois meses na Raw Material Company, em Dacar, no Senegal. Heráclito foi um dos contemplados com prêmio de residência pelo 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil (2013) com a obra Funfun (2012). A videoinstalação é um réquiem para uma mãe-de-santo falecida aos 105 anos em Cachoeira, cidade de residência do artista.
A obra de Ayrson Heráclito trata da herança e das influências históricas, culturais, sociais e religiosas da chegada dos africanos ao Brasil e, em especial, à Bahia. A partir do foco de sua pesquisa, o júri internacional de premiação do 18º Festival e os parceiros do Programa de Residências Videobrasil optaram pela inserção do artista no programa oferecido pela Raw Material Company, centro de arte que promove a valorização e o crescimento da criatividade artística e intelectual na África. Entre as atividades que estão previstas durante o período de residência do artista estão uma exposição na Raw Material e uma performance na Ilha de Gorée, distrito da cidade de Dacar conhecido pelo memorial e pelo museu dedicados à memória do tráfico de escravos africanos.
Em 2014, o artista participou da exposição Memórias inapagáveis – um olhar histórico no Acervo Videobrasil, com curadoria de Agustín Pérez Rubio, com o vídeo Barrueco (2004), criado por Heráclito em parceria com Danillo Barata. Ele participou ainda de um dos encontros dos Programas Públicos dessa mostra, apresentando a performance Batendo Amalá. Entre 2015 e 2016, Memórias inapagáveis passará por países como Argentina (Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires), Espanha (Museo de Arte Contemporánea de Vigo), México e Alemanha.
O mais recente trabalho de Ayrson Heráclito aconteceu em março deste ano. O baiano foi um dos oito artistas brasileiros selecionados por Marina Abramovic para participar da sua maior exposição na América Latina, Terra Comunal, também no Sesc Pompeia. Heráclito apresentou a performance Transmutação da carne durante a abertura da exposição, com performers que vestiam roupas feitas de carne seca marcadas a ferro quente pelo próprio artista, tal como eram identificados os negros escravizados até o século XIX no Brasil. Em sua contribuição para o FF>>Dossier 036, dedicado a Heráclito, a curadora e crítica de arte Alejandra Hernández Muñoz situa Transmutação da carne – e o vídeo homônimo ao qual deu origem, de 2005 – como parte de uma “tetralogia da escravidão” formada ainda por Sangue, sêmen e saliva (2006), Barrueco (2004) e As Mãos do epô (2007), nos quais utiliza o azeite de dendê devido a suas ligações objetivas e mítico-simbólicas com a terra-mãe África.
O registro da performance Batendo Amalá (2014), as vídeos instalações Funfun (2012) e Buruburu (2010), e os vídeos As Mãos do Epô (2007) e Barrueco (2004) integram o Acervo Videobrasil.