Mounira Al Solh é uma flâneur por convicção e natureza. Desde os tempos em que andava pela Beirute natal levada pela mão dos pais até os dias de hoje, a artista gosta de vagar sem destino, descobrir existências e se deixar absorver por elas. E então partir de novo rumo a lugares inesperados, imprevistos, eleitos pelo acaso.
Não fortuitamente, a obra de Al Solh é permeada de reflexões sobre a transitoriedade e sua transformação em modus vivendi. A história da arte, suas vicissitudes, a relação que mantém com o cotidiano e a realidade política no Líbano também servem de material para a artista, que utiliza a ficção para tingir com outras cores elementos entronizados no inconsciente coletivo de seus compatriotas: a guerra, as ferozes disputas de poder entre múltiplas facções, o impacto de anos de conflito no modo de pensar e viver e na maneira como os libaneses são vistos e retratados.
Al Solh se sobressai por uma obra em vídeo que é, ao mesmo tempo, inteligente e envolvente, escreve o jornalista canadense Jim Quilty, que vive e trabalha no Líbano, no Ensaio deste Dossier. “Rompendo com as premissas comumente atribuídas ao documentário, o trabalho de Solh restabelece discussões sobre pertencimento, representação e coisas do tipo – temas freqüentes numa época em que a identidade está em evidência.”
Aceita pela Rijksakademie holandesa para uma temporada de residência artística de dois anos, Al Solh vive entre Amsterdã e Beirute. Sem pertencer a nenhuma delas, garante a validade do passaporte que a possibilita estar aqui e acolá, habitando o território íntimo que obedece tão-somente aos ditames e à cartografia de sua alma de flâneur.
Saiba mais sobre este artista no acervo