Com um mínimo de recursos e visão peculiar, marcada pela ironia fina (mas que também sabe ser hilariante), o artista uruguaio Martín Sastre constrói um universo onde a fama pode ser de todos – e onde dançam, ao compasso da mesma narrativa iconoclasta, de Michael Jackson a Hello Kitty, de Britney Spears a Matthew Barney. De formas diversas, apodera-se de formatos consagrados pela cultura de massas internacional para expressar uma nova compreensão do mundo. A fantasia, o glamour, a edificação de uma realidade habitada por luzes, riqueza e poder aqui se reproduzem em tom de paródia e ao sabor do gosto latino-americano.
Baseada no vídeo e na performance, sua obra foi vista nas bienais de Veneza, São Paulo, Havana e Praga. Um dos artistas sul-americanos que mais logrou sucesso ao seduzir o “circuito principal da arte”, faz da oposição entre artistas ricos e pobres um de seus temas-chave. Não apenas na antológica La Trilogía Iberoamericana, subverte os pressupostos da dominação cultural na relação Norte-Sul e da noção de arte mainstream e criação independente em todos os seus trabalhos.
Seja no papel do guerreiro de desenho animado japonês que luta contra a arte contemporânea institucionalizada, seja como uma deidade holográfica que detém as chaves para a salvação da Europa, Sastre e suas narrativas apontam para a crítica à repetição de padrões, para o desgaste das soluções adotadas pelos grandes centros mundiais para difundir suas verdades, para a iminente ruína que está reservada a esse sistema.
Em seu Ensaio, o cineasta e crítico uruguaio Ricardo Casas afirma que, na obra de Sastre, “os sonhos se tornam realidade facilmente, bem como a fama, a possibilidade de se converter em estrela ou a possibilidade de se converter em artista latino-americano, ou seja, pobre. O pop aí é uma forma de ver o mundo, de ir além do que parece, de compor um espaço-tempo próximo à fantasia que nos invade a partir das telas todo o tempo”. Martín Sastre é o terceiro convidado da curadoria (A)Pareço, logo existo do FF>>Dossier, em série que apresenta quatro autores uruguaios que fundamentam sua obra no simulacro, na sedução pela imagem e na manipulação de códigos e táticas midiáticas contemporâneas.
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