Uyuni é uma cidade boliviana conhecida pela proximidade do Salar de Uyuni, deserto salgado de 12000 m2 de área na província de Potosí, fronteira com o Chile. Apesar de não fazer referência ao deserto de sal, o artista argentino Andrés Denegri parece nos mostrar em Uyuni (2005) uma situação tão árida quanto. Exibido no 15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil (2005) e incluído na Itinerância Videobrasil 2006-2007, o vídeo é o ponto de partida para esta edição do FF>>Dossier, dedicada à obra de Denegri e parte do recorte curatorial Outros espaços, que busca ampliar o debate sobre as possibilidades de construção-percepção do espaço pela imagem.
Em Uyuni, um casal de estrangeiros retido na cidade - no limite entre segurança e insegurança - conversa em um quarto sobre sua situação. Sobreposições de vídeo e película geram uma visão incisiva do espaço, que mistura a intimidade da conversa, as imagens das ruas vazias e transmissões de uma rádio peruana. Como numa extensão da situação vivida pelo casal, o espaço é pura tensão entre público e privado, entre lugares, territórios, imaginação e realidade. Próximo e longínquo se sobrepõem (como imagem eletrônica e película) na obra, que parece nos provar a heterotopia típica dos espaços contemporâneos. Rua, cidade, quarto, país, continente podem ser vistos, em planos abertos, na desolada paisagem de Uyuni.
Profundo conhecedor do cenário cultural e da produção artística portenha, o crítico, professor e curador Rodrigo Alonso escreve sobre a obra de Denegri no Ensaio. As situações criadas pela tensão entre distância e intimidade desde os primeiros trabalhos do artista são um dos temas de reflexão de Alonso, que enxerga em Denegri a tendência a trabalhar com a metonímia, deixando ao público a decisão final sobre certas situações. Ou, em suas palavras, de “construir o relato audiovisual a partir de fragmentos que remetem a um todo ausente, que o espectador deve completar”.
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