Em 1930, Cole Porter indagou dos freqüentadores da então jovem Broadway quem estava “preparado para pagar o preço de uma viagem ao paraíso”. Love for Sale, do compositor norte-americano, é narrada por uma prostituta; previsivelmente, não foi bem recebida à época.
A canção virou clássico, mas o “amor à venda” não saiu da marginalidade. É ele que está no centro da obra de Alexandra e David Beesley. Com os olhos postos nas “provedoras de prazer”, que fazem parte de realidades tão fantasiosas quanto cruéis, o casal de artistas percorre as diversas dimensões da existência de quem tem o sexo como trabalho.
Em uma abordagem despida de véus e generosa em matizes, eles posicionam suas câmeras com naturalidade e criticismo. Querem apresentar o cotidiano de quem é “vítima e réu”, como observa um dos entrevistados de Revolving Door, o documentário que deu à dupla anglo-australiana o Prêmio Aquisição/Investigações Contemporâneas no 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC_Videobrasil (2007).
“Há tanto estigma associado ao trabalho sexual, que achamos importante romper estereótipos. Queríamos mostrar os personagens como pessoas, não como prostitutas; mostrar que o trabalho sexual é algo que elas fazem, e não algo que as define como seres humanos”, afirmam.
Nascido, em parte, da idéia de garantir o anonimato aos seus personagens reais, o recurso à animação é um dos traços mais fortes do trabalho da dupla, abrindo-o a múltiplas interpretações. “O documentário dá uma voz ao tema; o documentário animado reforça o tema ao insistir na presença do autor como seu fiador político”, escreve no Ensaio o professor Paul Wells, especialista em animação.
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