“Há algo estranho no entorno da praça”, advertia o título de uma página de jornal, em relação ao que foi considerado um insólito trabalho de arte no centro da gaúcha Pelotas, em 2006. Ocupação parasita, uma entre as muitas obras do coletivo paulistano BijaRi, usava um edifício inacabado e frases do vocabulário visual urbano para discutir a priorização das populações de alto poder aquisitivo em detrimento da democratização da cidade.
O “estranho” é moeda corrente na trajetória do grupo, que desde 1996 se concentra em deixar à mostra fissuras sociais das urbes nacionais com projetos que transitam entre distintas linguagens, da videodança ao design. Como quando leva uma galinha para ciscar no caótico comércio do largo da Batata e na glamourosa calçada do Shopping Iguatemi, ou usa dezenas de joões bobos para romper a rotina dos transeuntes do centro de São Paulo com questões sobre quem bate, apanha, dribla e é driblado na cidade.
Apresentar outras formas de ver e viver o dia-a-dia, mergulhar na pluralidade brasileira e problematizar as sociedades são exercícios presentes nas obras do BijaRi, desenhadas para incitar à reflexão e ao posicionamento crítico sobre o uso do espaço público e as interações com o outro. Tudo o que integra a cartilha da nova ordem mundial é de interesse do coletivo; e nada melhor do que levar a pretensa normalidade desses ditames ao paroxismo para que a verdadeira estranheza do cotidiano – matizada de injustiças, hipocrisias e interesses vorazes – aflore. Com a edição dedicada ao BijaRi, o FF>>Dossier abre uma nova série mensal, que se estende por 2008 e tem como objeto os artistas premiados no 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC_Videobrasil.
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