Dani Umpi é um artista anfíbio: faz questão de deixar à mostra, todo o tempo, seu envoltório recoberto de escamas que podem ser consideradas sofisticadas ou vulgares, brilhantes ou banais, respeitosas ou ridicularizantes. Como uma avis rara de plumas, pêlos no peito, unhas pintadas e dreadlocks, vem há cinco anos ocupando o cenário artístico do Uruguai de modo até então inédito no país. Criador transformado em criatura, seu universo conjuga fantasia, falsificação, melodrama e deboche, órbita na qual transitam suas obras e hábitat de onde o artista opera e pensa o mundo.
Descontextualização, humor e misturas a princípio heterogêneas são o tripé de suas investigações, em que noções como alta e baixa cultura não só se diluem como prescindem de qualquer significado.
O artista abre a curadoria (A)Pareço, logo existo do FF>>Dossier, série que apresenta quatro autores uruguaios que têm o simulacro, a sedução pela imagem e a manipulação de códigos e táticas midiáticas contemporâneas como ferramentas e fundamentos de suas criações.
Umpi se deixa atrair por obras que “ofereçam um mundo” ao espectador. “Gosto das estrelas. Se alguém canta como se estivesse na sala de estar de sua casa, não me interessa. Gosto que me levem a algum lugar.”
Que não engane, porém, a postura festiva e aparentemente naïf desse autor-personagem. Dani Umpi é o cantor indicado a um prêmio da MTV que faz da voz esganiçada um trunfo cênico, mas também o escritor de romances ágeis e algo sombrios, amplamente resenhados no Rio da Prata. A juntar tudo isso, surge ainda como performer imprevisível, que pode aparecer em um programa televisivo atirando verduras contra a platéia.
É tudo mentira, e é tudo verdade. As camadas de Umpi, ele diz, à medida que se multiplicam e o popularizam, também o protegem e o isolam. Sua capacidade camaleônica lhe permite mesclar-se e diferenciar-se de acordo com as circunstâncias.
Como um dândi, passeia elegantemente por territórios inesperados e, em seu passo, “filtra e desativa os dispositivos convencionais de assimilação da arte”, conforme grafa a crítica Jacqueline Lacasa no Ensaio escrito para este Dossier.
Reinventar-se continuamente é exercer poder, e o discurso engendrado pelo artista convida o observador a perceber um mundo incoerente e prenhe de ambigüidades.
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