Qual é o movimento típico da imagem eletrônica? O tubo catódico transforma os pequenos pontos em imagem em movimento. Longe dos grãos que caracterizam a imagem fotoquímica da película cinematográfica, a imagem eletrônica é quase uma pulsação, uma erupção de sinais que formam uma imagem bastante aberta a todos os tipos de manipulação e incorporação de ruídos.
Manolo Arriola conhece muito bem esses expedientes da imagem eletrônica e, apesar do extremo rigor formal das imagens que produz, esse artista mexicano, em alguns de seus trabalhos, aplica a própria lógica que estrutura o vídeo como suporte nas suas produções. Podemos ver isso, por exemplo, nas imagens de Paseo catódico (1999). Neste vídeo, o caminhar de um homem pelo espaço definido no monitor trata ao mesmo tempo das especificidades do movimento na imagem do vídeo e das formas de percepção que essa imagem parece inaugurar. O esgarçamento provocado pelo zoom digital aplicado na pós-produção que amplia a imagem, quase a desfigurando, aliado aos recortes dos textos Ernst Gombrich e a quase exaustiva repetição da mesma imagem, enfatizam essa busca por uma certa especificidade dos processos de formação da imagem eletrônica e de seus movimentos.
Os trabalhos de Arriola tencionam, de alguma maneira, a relação entre movimento e percepção, e para isso ele usa os recursos típicos do vídeo como o congelamento ou a pulsação da imagem, a repetição, o esgarçamento e a quase diluição das figuras entre as inúmeras sobreposições e incorporações de ruídos. Em Malgré-tout (2001), inspirado na escultura homônima do artista mexicano Jesús F. Contreras (1866-1902), Arriola mistura os movimentos da imagem com aqueles criados durante a edição. O resultado é quase um palimpsesto de imagens, ruídos, sombras e figuras que mais sugerem do que explicitam.
Abertas à manipulação e ao rigor da composição formal, as imagens entram e saem como que para explicitar a características de imagens em fluxo tão típica do ambiente do vídeo. O vídeo foi realizado com os recursos da bolsa para jovens artistas do Fundo Nacional para a Cultura e as Artes, CONACULTA-FONCA (2000-2001).
Se esse movimento em alguns de seus trabalhos está ligado a uma espécie de “metavídeo”, um vídeo que trata de si próprio, de seus limites e das possibilidades de criação, em outros trabalhos surge uma reflexão mais voltada para os processos de significação que o movimento pode sugerir. Em King (1999) Arriola aproxima, na edição do vídeo, as esculturas de Elvis Presley e de Jesus Cristo. O que aproxima é um movimento de câmera associado aos recursos de edição, que nos mostram como os ícones, os ídolos e as imagens são criados e postos em circulação na sociedade atual.
Em outros trabalhos Arriola segue em busca da visibilidade do movimento por meio das vertiginosas edições que privilegiam mais a repetição das imagens, transformando-as quase em um looping. Vemos isso em Flicker (2000), que busca nas imagens do filme La tormenta de Fernando Vallejo o material para sua recriação do movimento e também em Mismo (2001), que, através de sobreposições e repetições da mesma imagem, reelabora os sentidos e a percepção dos movimentos do homem que faz ginástica em um aparelho.
Nesta oitava edição do FF>Dossier mostramos alguns dos trabalhos de Monolo Arriola e, com isso, aprofundamos nossa investigação sobre os artistas circuito sul.
A colaboração Priamo Lozada, curador do Laboratorio Arte Alameda, espaço dedicado à produção, à exibição e à difusão da arte contemporânea na Cidade do México, e da curadora Pillar Villela, que escreve o ensaio sobre a obra de Arriola, foi fundamental para o desenvolvimento deste Dossier.
O FF> Dossier é uma ação da Associação Cultural Videobrasil para a difusão e a divulgação da produção artística nos países do circuito sul. Seus comentários, críticas e sugestões são benvindos.
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