Com um rigoroso processo de composição formal das imagens, expresso em edições vigorosas e ousadas que aproximam e misturam elementos gráficos e imagens, a obra de Ethem Özgüven, que apresentamos nesta 11a ediçãoo do FF > Dossier, parece reivindicar novos olhares para sua compreensãoo. O artista frequentemente lança mão de elementos formais típicos da videoarte associados a sofisticados recursos de videodesign; no entanto, ao contrário de celebrar a pouca densidade das imagens e dos textos velozes., Ethem nos brinda com imagens altamente comprometidas e envolvidas nos atuais contextos políticos, gerando outras visualidades inseridas num misto de experimentação de linguagem e ativismo. São vídeos que parece brincar com as supostas divisões entre gêneros e formatos, e por isso nos solicitam um olhar bastante livre para captar conteúdos engajados e subjetivos nas imagens e nos símbolos que normalmente povoam a publicidade.
Talvez essa conexão com a linguagem da publicidade venha dos “social spots” que produz na Beykent University (Istambul) e também nos Workshops Internacionais de Produção de Vídeo que realizou com Petra Holzer e Walter Pucher entre 1990 e 2002, reunindo mais de 200 participantes vindos de mais de 20 países. Essas produções usam dos recursos e da linguagem da publicidade e do videoclipe, mas são construídos em torno de mensagens de conscientização para causas como a guerra e a violência contra mulheres e crianças, entre outras.
Em outros trabalhos, como vídeo F/F (2004), o que vemos é uma alucinante sobreposição de gráficos com textos, estatísticas e dados que mostram informações sobre a violência contra mulher. Os textos são sobrepostos a imagens de uma mulher que dança flamenco.
A música e a coreografia dão o ritmo das palavras, dos ímbolos e dos números, que se tornam mais que uma intervenção de direção de arte e passam mesmo a compor um quadro informacional único, como se Ethem nos chamasse a atenção para as inúmeras mensagens que absorvem distraidamente no nosso dia-a-dia.
Esse recurso também está presente em outros trabalhos, comon na trilogia AMN (All my nightmares), LIG (Life in General) e LID (Life in detail), todos de 2001, e que compõem a videoinstalação Nightmares. Nesses trabalhos o rigor de edição e do tratamento das imagens amplia o horizonte de sentido proposto pelo artista, sobretudo quando associados à riqueza dos gráficos e dos textos sobrepostos à imagem. Em AMN (All my nightmares), já exibido na 14a edição do Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil, imagens seguidas de locução distorcida eletronicamente nos mostra ciclos que se repetem numa vertiginosa edição.
A aproximação entre textos e imagem e entre os gráficos em movimento e as imagens parece ter levado Ethem a se acercar do texto poético, seja na apropriação do texto do poeta turco Ilham Berk, nascido em Manisa em 1918, no vídeo GURE aegean (2004), ou em Erol Akyavas (2000), vídeo com texto do próprio diretor que faz da combinação entre locução, as legendas e as imagens um delicado poema visual.
É com grande alegria que apresentamos a obra de Ethem Özgüven nessa 11a ediçãoo do FF > Dossier, vídeo que conseguem nos mostrar algumas instigantes direções que a arte eletrônica vem tomando e que ampliam a atuaçãoo e as trocas da Associação Cultural Videobrasil no circuito sul.
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