Daniel Lisboa conquistou o prêmio Novos Vetores do 15º Videobrasil com um achado estético de teor político explosivo. Rápido, direto, contundente, seu O Fim do Homem Cordial encena a aparição de um grupo de terroristas encapuzados em meio à transmissão de um conhecido telejornal baiano - para anunciar, ao vivo, o seqüestro do senador Antonio Carlos Magalhães. Característico das ações de grupos árabes pós-11 de setembro, o uso estratégico da TV faz um irônico sentido na referência a um poder político que se perpetua, em boa parte, graças ao controle dos meios de comunicação. “Aprendemos na TV o Terrorismo Audiovisual e vamos executá-lo”, diz um dos mandamentos reunidos no Manifesto Cinematográfico Anticordial, conjunto de princípios listados por Lisboa e parceiros de trabalho e seguidos à risca em O Fim do Homem Cordial.
A articulação inteligente de referências políticas e estéticas - a exemplo do uso da precariedade técnica em benefício da criação de uma atmosfera miserável, violenta, limite - faz de O Fim do Homem Cordial o melhor exemplo do que a mostra Novos Vetores, do 15º Videobrasil, esperava reunir: trabalhos de jovens realizadores que expõem visões de mundo emergentes e revelam o pensamento e a ação de uma geração exposta desde cedo às possibilidades de comunicação e de criação com tecnologia. Os temas e exercícios que precedem a realização de O Fim do Homem Cordial na trajetória do baiano Daniel Lisboa e a perspectiva que ela traz à continuidade de sua produção estão entre os temas desta edição do FF>>Dossier.
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