Pode parecer paradoxal deslocar assim a subjetividade para conjuntos materiais, por isso falaremos aqui de subjetividade parcial; a cidade, a rua, o prédio, a porta, o corredor... modelizam, cada um por sua parte e em composições globais, focos de subjetivação. - Félix Guattari
No interior de casas para alugar, somos guiados por uma câmera-olho que varre a ausência de vida e afeto. Espaços desolados que desejam ser habitados, embalados por diálogos e músicas românticas vindos de programas de rádio que aproximam pessoas em busca de amor. A intimidade anunciada publicamente invade um espaço que parece íntimo, mas, na verdade, nada guarda. Apenas espera, vazio, pelo próximo inquilino.
É nesta situação - entre dentro e fora, entre o íntimo público e o quase-íntimo da casa vazia - que Fernanda Goulart constrói Alugo-me (2004). Derivado de uma instalação que nos convidava a chegar perto do pequeno monitor para ouvir o áudio, o vídeo revela com rigorosa sutileza os espaços da intimidade. Exibido na mostra Novos Vetores do 15º Videobrasil (2005), é o ponto de partida do terceiro FF>>Dossier da série Outros espaços, centrada na relação entre imagem eletrônica e espaço.
Landscape Theory (2005), de Roberto Bellini, que aborda as políticas do espaço, inaugurou o ciclo. Seguiu-se a tensão e o esvaziamento de Uyuni (2005), de Andrés Denegri. Com Alugo-me, a série chega a uma espécie de espaço íntimo esgarçado, exposto na crueza de casas vazias e de falas de pessoas que buscam afeto para preencher seu próprio vazio. Um espaço “onde se cruzam histórias íntimas e a paisagem esvaziada da arquitetura que já foi habitada, morada, vivida”, nas palavras da artista e crítica de arte Yana Tamayo, que analisa, no Ensaio, as tensões entre o público e o privado típicas da experiência de busca pelo outro reveladas em Alugo-me.
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