Armando Queiroz nasceu e vive em Belém, uma cidade portuária no delta do rio Amazonas que prosperou na viragem dos séculos XIX e XX graças ao boom da borracha. O período é muitas vezes referido como a “Belle Époque brasileira”, tomando emprestado um termo que foi usado para descrever o surto de cultura e ciência que ocorreu na Europa nos mesmos anos. Em Belle Époque, vemos o rosto de uma estatueta que pertenceu à avó da artista. Um escaravelho tropical tenta desesperadamente agarrar-se a um dos seus olhos de mármore. O inseto acaba por perder a aderência e cai para fora do quadro. O espectador pode interpretar a afirmação artística de Queiroz de muitas maneiras diferentes: uma metáfora da nossa relação com o passado colonial (valerá a pena reter e alimentar-se de memórias de uma era dourada?); uma encenação do confronto irresolúvel entre a natureza e a cultura; ou talvez um afloramento de memórias pungentes da infância, em que uma herança de família desempenha o papel de uma madeleine proustiana?
