Depoimento 2019
Transcrição de depoimento para a 21ª Bienal
A inspiração para Laboratory of Dilemmas veio da peça de teatro de Ésquilo chamada “As suplicantes” (Iketides). As suplicantes da tragédia de Ésquilo fogem do Egito e chegam em Argos, na Grécia, e pedem asilo ao rei da cidade. Este, então, se vê diante de um dilema: ajudando-as, ele corre o risco de começar uma guerra com os egípcios, que virão reivindicá-las; mas, se ele não ajudá-las, transgride as leis sagradas dos deuses, que exigem a proteção a todos os suplicantes. O dilema do rei levanta a questão de como tomamos decisões baseadas no pragmatismo ou no idealismo, de como lidamos com o desconhecido, com o diferente, o estranho e dos riscos que assumimos ao aceitar e proteger. A obra lida com a angústia, a perplexidade e a confusão de indivíduos e grupos sociais que se veem obrigados a lidar com temas similares.
O dilema da tragédia é recontextualizado e apresentado com base em um experimento biológico. No último estágio do experimento, um grupo de células diferente daquele que estava sendo pesquisado surge inexplicavelmente. A equipe de pesquisadores é pressionada para permitir que essas novas células se organizem dentro da cultura existente no experimento, pois, do contrário, correm o risco de se extinguir. No entanto, ao permitir que isso aconteça a sobrevivência da cultura existente e bem-sucedida é ameaçada. Ao fornecer um novo contexto ao dilema da antiga tragédia, escrita 2500 anos atrás, minha intenção foi abri-la a uma interpretação mais ampla. Ela é histórica, e ao mesmo tempo é e continuará sendo sempre contemporânea. Não se trata de uma história aleatória mencionada em uma tragédia antiga. Ela expressa uma questão crucial para as sociedades de hoje em dia, para a ciência de hoje em dia e, sobretudo, a respeito de nós mesmos.
Minha obra original, apresentada no pavilhão grego da Bienal de Veneza de 2017, era uma instalação com narrativa, como um labirinto por onde se entrava, com múltiplos canais de som e vídeo. Ela se concentrava no dilema da antiga tragédia, por meio de excertos de um velho documentário sobre um experimento biológico. A história era apresentada em partes, por diversas fontes de vídeo e de som, no interior de um labirinto, que era efetivamente uma réplica do velho laboratório do experimento. O visitante podia, quase literalmente, seguir os passos do professor pelo laboratório, podia vê-lo e/ou ouvi-lo, recolher todas as informações fragmentadas sobre a pesquisa e chegar ao ponto de tomar a decisão final. O visitante criava a história inteira mentalmente, após recolher – de modo também físico, percorrendo a instalação –todas as imagens e sons da história do velho experimento.