Biografia comentada Eduardo de Jesus, 2004
Graduada pela FAAP em Artes Plásticas (2001), a trajetória de Lia Chaia (1978, São Paulo, Brasil) começou na própria faculdade, nas mostras anuais lá realizadas. Lia participou das anuais da FAAP entre 1999 e 2001. Em 2000 Chaia iniciou suas participações em exposições coletivas fora do contexto da FAAP. A primeira é uma participação em uma exposição no Paço das Artes, em São Paulo. No ano seguinte, Lia Chaia participou da Bienal Extra em São Paulo e da coletiva Políticas Pessoais, no Museu de Arte Contemporânea de Americana, no estado de São Paulo. Em 2002 a artista participou de diversas coletivas como Marrom, na Galeria Vermelho, em que apresentou a performance Na cama formigando com um tango e o áudio Gol. Na performance Lia permanece deitada nua em uma cama durante três horas, com o corpo coberto de pequenos adesivos com desenhos de formigas enquanto um tango dá o ritmo da performance. O tango foi editado de modo a repetir determinados trechos como em um disco arranhado, e a cada mudança a artista alterava sua posição na cama. Tempo, corpo e performance comandados pelo ritmo da repetição. Essas questões aparecem posteriormente em outras performances de Lia, como por exemplo em Rede, apresentada em 2003 no Sábado de Perfomances da Galeria Vermelho. Nessa performance Lia se coloca comodamente em uma rede instalada em uma área aberta da galeria, onde permanece também durante três horas. Diante da rede, o livro Confissões de Santo Agostinho aberto na extensa reflexão sobre o tempo. Santo Agostinho, nesse texto, indaga: “Por conseguinte, o que é o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; porém, se quero explicá-lo a quem me pergunta, então não sei”. Lia parece indagar o mesmo, transferindo a questão para o âmbito da arte. Como experimentar o tempo presente? Já no áudio Gol a narração de gol feita pelos entusiasmados locutores esportivos se repete exaustivamente, mostrando uma espécie de êxtase constante. A obra causa incômodo pela intensidade e constância daquilo que normalmente é experimentado sempre aos poucos e em intervalos de tempo mais regulares. Os gritos sobrepostos e ininterruptos que prolongam a alegria fugaz do gol parecem também reivindicar outras temporalidades. Ainda em 2002 Lia apresentou na coletiva Com que corpo eu vou? na UNICID, em São Paulo, o vídeo Corpo-desenho, no qual a artista desenha com caneta esferográfica em seu corpo até que a tinta acabe. A duração de 51 minutos do vídeo, que parece remontar aos primórdios da videoarte e da body art nos anos 1970, revela essa preocupação da artista com o tempo e com os dispositivos que inscrevem essa duração no corpo. Nesse mesmo ano Lia fez a fachada da Galeria Vermelho com a intervenção Fachada Brasileira, uma seqüência de sorrisos recortados das páginas de revistas, unidos por sutis traços verdes e amarelos. Também em 2002 Lia Chaia realizou Experiências com o corpo, sua primeira exposição individual no Instituto Tomie Ohtake com curadoria de Agnaldo Farias. A artista mostrou os vídeos Desenho-corpo, Big-Bang, Um.bigo, Desorientação e a série de 103 fotografias Castelo de areia. Em 2003 a artista participou da exposição Young Brazilian Artists na Galeria André Viana, na cidade do Porto, em Portugal, sua primeira coletiva internacional.Nesse mesmo ano apresentou a instalação site specific Verdejar: verde no branco no verde na Galeria Vermelho, na coletiva 1 Lúcia 2 Lúcias. Lia cobre com algumas telas em branco parte das paredes da galeria. Posteriormente pinta sobre as paredes e as telas, e retira as telas, já pintadas, colocando-as em outras paredes em branco, criando uma relação entre os espaços vazios deixados pelas telas que agora estão deslocados em paredes brancas da Galeria. Ainda nesse ano Lia participou da coletiva Ordenação e Vertigem, no Centro Cultural do Banco do Brasil em São Paulo. Com curadoria de Agnaldo Farias, a exposição apresentava obras de artistas contemporâneos em diálogo com a obra de Arthur Bispo do Rosário. Lia participa com o vídeo Corpo-desenho (2002). Em 2003 Lia Chaia ganhou uma bolsa da FAAP para uma residência em Paris. A artista viveu e trabalhou em Paris entre agosto de 2003 e fevereiro de 2004, e lá realizou a intervenção pública Um mundo. Pequenas bexigas ilustradas com estrelas foram colocadas nas esferas dos guarda-corpos de algumas ruas da cidade. Ainda em 2003 Lia realizou a individual A sala da Lia no Ateliê Aberto, em Campinas, São Paulo. Nessa exposição mostrou a instalação Verdejar: verde no branco no verde. Em 2004 a artista mostrou a Instalação Vereda em uma exposição individual no Programa Sítio, promovido pela Base 7, escritório de projetos culturais, São Paulo. A instalação site specific mostra desenhos de folhas feitos sobre a parede de concreto previamente pintada de verde. A artista desenha enquanto o concreto está fresco, revelando o verde que há por baixo. As pinturas na parede se complementam no ambiente com totens com fotografias de plantas em recortes geométricos.Ainda em 2004 a artista participou da coletiva O Corpo Entre o Público e o Privado, no Paço das Artes, em São Paulo, com curadoria de Christine Mello e Arlindo Machado. Lia apresentou nessa exposição o vídeo Desenho-corpo. A exposição também foi apresentada na Casa das Onze Janelas, em Belém, Pará.