Ficha técnica complementar
performers - Adelita A. Almeida Ahmad, Adriana Barreto, Aline Gambin, Aline Midori, Bruna Mansani, Bruno Pimenta, Camila Rodrigues, Carolina Hamanaka, Carolina Mendonça, Christiana de Moraes, Claudia Aparecida, Daniela Castro, Daniela Figueiredo, Daniella Soares, Denise Santos, Diana Parisi, Evandro Vaz, Fernanda Dantas, Germana Pereira, Gisele Cristine Ferreira, Gustavo Veiga, Ivonete Cavalcante, Leandro de Oliva, Luana Onha, Lucas Rached Pereira, Maíra Ferreira, Maíra Gabrielli Martins, Maíra Vaz Valente, Marco Aurélio Barreto, Maria Alejandra Guerrero, Mariana Chaves, Marilia Del Vecchio Gessullo, Mayra Tenório Azzi, Paula Barros, Rodrigo Faria dos Santos, Tainá Azeredo, Tetê Farkas, Thainah Aquino, Valentina Fernandes, Yasmim Salim
Texto de apresentação 2005
Bare LIife Study #1 – Coco Fusco
Nem campos, nem desertos, nem praias de difícil desembarque. Na era das “bombas inteligentes”, o combate corpo-a-corpo deixou a esfera dos teatros de guerra historicamente delimitados pelas potências bélicas. É no recôndito das bases e celas que os prisioneiros políticos são confrontados, cruelmente, com a verdadeira face de seus oponentes. Nesse território, a artista, escritora e curadora Coco Fusco (Nova York, 1960) monta sua performance. Com algumas dezenas de voluntários, ela encena uma das torturas mais frequentemente impostas por soldados norte-americanos aos prisioneiros que mantêm, de Abu Ghraib a Guantánamo: fazê-los limpar as celas com escovas de dentes. Fusco ocupa um espaço público de São Paulo e move seu pequeno exército para trazer à luz o que diariamente se desenrola na escuridão autorizada das prisões militares.
“Com Bare Life Study #1, quero provocar reflexão não só sobre as implicações desse estado de exceção que se instalou como parte da vida política contemporânea, mas sobre o papel de testemunha exercido pelo público mundial”, diz a artista, conhecida por performances, intervenções, instalações e vídeos que conciliam contundência política e uma estética fresca e instigante. Os rituais militares – além do papel da mulher neles – tornaram-se objeto de sua atenção recentemente. Em julho, como parte da pesquisa para um novo trabalho, ela visitou um grupo de militares norte-americanos aposentados que oferecem treinamento a quem deseja especializar-se em conduzir interrogatórios.
Originalmente, diz Fusco, o interesse que move sua obra é “investigar a complexa dinâmica psicossocial dos encontros entre pessoas de culturas diferentes e como ela afeta a construção da personalidade e as idéias sobre diversidade cultural”. Para fazer-se clara, ela recorre, sem cerimônia, a combinações de linguagens inusitadas, como a dos circuitos de vigilância, das telenovelas latinas e dos falsos documentários. Para abordar a questão do estranhamento cultural, escolhe sempre os ângulos menos fáceis. No vídeo Els Segadors, descrito pelo jornal The New York Times como “tão sutil quanto divertido”, usa uma cultura excluída, a dos catalães, para tratar do princípio de exclusão que rege todas as culturas, mesmo a catalã. The Couple in the Cage, performance na qual encarna uma aborígine e tranca-se em uma jaula para observar a reação dos passantes, prova seu raro senso de humor.
A política da identidade cultural cubana e as experiências de migração e diáspora foram temas preferenciais da artista, que agora se concentra nos “efeitos da globalização e nas noções de pertencer a ou identificar- se com uma cultura”. Bare Life Study # 1, ela espera, será um tributo a uma conexão antiga. Filha de mãe cubana e pai italiano, Coco Fusco se define como uma “brasileirófila”. “Amo o Brasil há 20 anos, desde quando ia para o festival de cinema de Havana e o imenso contingente brasileiro era sempre o mais vibrante. Tenho grande identificação espiritual com muitos brasileiros, alguns deles meus heróis, como Glauber Rocha, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Cildo Meireles, Caetano Veloso e Naná Vasconcelos.” “Sei que no Brasil há uma longa trajetória de arte conceitual politizada e que os artistas levam suas intervenções para a rua, e acho muito apropriado criar algo que, de certa forma, faça uma homenagem a essas tradições.”
ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil - 'Performance.'": de 6 a 25 de setembro de 2005, p.108 e 109, São Paulo-SP, 2005.