Depoimento 2019
Transcrição de depoimento para a 21ª Bienal
Nosso envolvimento com a Família Stronger começou em 2016. Já conhecia o Elvis há um tempo, do ativismo, e ele me procurou porque a Família Stronger faria dez anos e queria um vídeo. Começamos a filmar na mesma semana e logo percebemos que um longa-metragem apenas não daria conta da riqueza do universo da Família. Aí, veio a ideia de um projeto de narrativa transmídia. Iniciamos o processo de criação e programação da fase beta do webdocumentário, que inclui 14 vídeo-retratos, fotografias, redes sociais, em um diagrama de parentesco interativo. No ano passado, criamos a videoinstalação Domingo, apresentada na 21ª Bienal, e que foi feita com material de apenas um dia dos mais de três anos em que acompanhamos a Família.
Presente neste trabalho, além das imagens do cotidiano da família, também temos algumas imagens de um protesto levado a cabo pela família após o golpe sofrido por Dilma Rousseff. O motivo disso é que algumas dessas famílias LGBT, como a Stronger, passaram, nos últimos anos, por um intenso processo de politização que, no geral, foi marcado por situações de extrema violência, inclusive policial. Então, é inevitável que, ao acompanhar o cotidiano da Família, nós também fôssemos levados ao cenário de manifestações políticas que vivemos no Brasil. Ficou claro para nós que a dimensão micropolítica, do cotidiano, e a macropolítica estão inteiramente relacionadas.
Por isso, observar esse trabalho no contexto da 21ª Bienal é importante, levando-se em consideração o fato de que, nas últimas décadas, diversos grupos de resistência, dos movimentos antiglobalização aos movimentos ditos identitários, têm usado a arte para avançar e disputar pautas políticas. A aproximação entre arte e política, que sempre existiu, tem se intensificado e assumido formas bastante particulares. E, cada vez mais, assim como artistas vão para rua para produzir suas obras, ativistas entram nos espaços institucionais da arte, transformando-os em locais de luta.