Entrevista Patricia Moran, 2003
Entrevista cedida por Patrícia Moran ao 14º Festival
Durante o festival estaremos discutindo as questões do deslocamento e dos processos nômades como imagens e ações emblemáticas da situação política e cultural contemporânea. Como você reflete isso no painel da arte eletrônica? Este é um tema de interesse em sua obra?
sei lá se essa coisa do deslocamento é contemporânea. está mais facilitado.num sei se entendi a pergunta. q deslocamentos? de linguagem. caso sim, hoje mais radicais graças à digitalização da vida. a arte é o lugar da promoção de deslocamentos, se tudo fica no mesmo lugar, se não há deslocamentos do olhar, de interrogações, de sensações no apreender, de sentimentos, será arte? as pessoas... algumas sempre andam no físico. e se param no físico, andam pra dentro. as outras fazem o volume da média. walter benjamim fala disso no começo do século de um jeito atual ainda.
A relação entre arte e política é ao mesmo tempo rica e conflituosa. Como você percebe esta relação no caso específico do seu trabalho?
os russo já nos ensinaram a abandonar essas dicotomias. quando o trabalho fala de questões de sua época, que incomodam, pertubam, machucam, empurram e param o realizador, algo de político há. não macro-política. macro-política é emprego de profissionais. mas micro. aquela que pode até ser uma resistência sem muito barulho. sem necessidade de projeção, como a banda fugazzi negando-se a participar de eventos que trazem no nome a marca de patrocinadores, ou não deixando TVs oficiais usarem sua imagem. como maiakówski acredito que pra haver política a questão formal tem q estar em discussão no trabalho. senão é só alimentação de lugares instituidos pra legitimar realizador e trabalho.
No contexto sócio-político e cultural contemporâneo, as identidades locais se reconfiguram em tensão com os fluxos globais. Inserida neste processo, a arte eletrônica participa como um campo aberto à experimentação e expressão de novas formas de subjetividade. Como essas questões se manifestam em seu trabalho?
mesma resposta da primeira pergunta. quem consome TV, filmes, videos, instalações, internet, pão de queijo, doce de leite na palha, amigos, amados, alunos e vinho - tudo de maneira ora atenta , ora desatenta - tem que fazer algum tipo de síntese. se vivo meu tempo, meu tempo vive em mim. podemos tentar mentir pra todos, menos pro nosso travesseiro.
Atualmente, verifica-se nas culturas locais o desafio de reinventar as memórias pessoais e coletivas, sem deixar que elas se esvaziem frente aos fluxos de comunicação global. A seu ver, como este desafio se traduz nas experiências da artemídia?
o local q interessa inventa-inventariou pessoais e coletivos. espero sempre encontrar um manuelzão em algum fim de mundo.artemídia é mais um lugar pra manuelzão passear, levado pelos braços das garotas que ele tanto prezava. este "q", vira outro pelo como.
No contexto de abordagem dos meios eletrônicos-digitais , interessa-lhe as questões do corpo? Como o corpo aparece em sua obra?
o corpo ouve. o corpo cria. o corpo se dilacera mesmo sem intervenção física. o corpo é poderoso depois de produzir endorfina. o corpo entende o corpo. o cérebro é corpo. o dedo mindinho também. o corpo fala com o computador. ama e briga. horas e dias diante das telas fazem calo nos olhos. o corpo é o infinito mais proximo. o corpo nossa obra mais irmã. respostas dedicadas ao videobrasil. que de tanta insistência gentil me fizeram vomitar algo sobre esses motores. pq essas perguntas? pergunto!
Associação Cultural Videobrasil