Biografia comentada 05/2009
Professor do quadro permanente no Centro de Artes, Humanidades e Letras da UniversidadeFederal do Recôncavo da Bahia, Danillo Barata é autor de uma obra que tem como centro arelação entre corpo e vaidade, corpo e sistema da arte, corpo e mundo, entendido, sobretudo, em seus estratos sociais. Está interessado na produção contemporânea que articulaperformance, imagem e arte eletrônica.
A motivação para criar precede sua entrada no curso de desenho e plástica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 1997. Desde muito antes, a casa paterna já lhe oferecia o primeiro e fundamental encontro com o mundo das artes: um dia a dia marcado pelo fazer artístico e pelas obras do pai, José Mário Barata, pintor autodidata. “As conversas sobre arte tornavam-me cada vez mais interessado nos processos artísticos, sobretudo no processo criativo”, conta Danillo.
Durante o período de estudos universitários, o artista desenvolveu trabalhos como assistente de cenografia e integrou por dois anos o núcleo dessa área no Teatro Castro Alves, em Salvador, onde assinou cenografias como a do espetáculo Lábaro estrelado, dirigido por José Possi Neto. As pesquisas que desenvolvia na escola de belas-artes se incorporavam aos processos cênicos.
No segundo ano de faculdade, o contato marcante com a fotografia causou o que o artistadefine como um “deslumbramento com a imagem”. Sob esse impulso, escreveu seu primeiro roteiro e dirigiu seu curta-metragem Barbearia ideal (1998).
Do teatro soteropolitano, o artista passou à Diretoria de Imagem e Som da Fundação Cultural do Estado da Bahia, onde desenvolveu uma série de trabalhos em vídeo e criou o projeto Videoclipes de apoio aos novos talentos da música baiana. Os clipes Cidade de São Camaleão (para O Cumbuca),Garotas boas vão pro céu, garotas más vão pra qualquer lugar (para Rebeca Matta) e Alucinação (para a banda Dois Sapose Meio), que dirigiu, serviram de importante introdução ao casamento de som e imagem.
Em paralelo à intensa produção audiovisual, o criador reflete sobre seu processo de criação em um grupo de estudos que o aproxima de outros estudantes da Escola de Belas-Artes da UFBA interessados em investigar as poéticas visuais.
Em 2000, é convidado a integrar a coletiva Terrenos, ao lado de artistas baianos da novíssima geração: Zuarte, Marepe, Zau Pimentel, Ayrson Heráclito, Marco Aurélio, Gaio, Iêda Oliveira e Eneida Sanches. Expõe a videoinstalação O inferno de Narciso, concebida a partir da “relação narcísica com a sociedade de consumo e a necessidade de espelhamento” e com base no mito grego descrito em Metamorfoses, de Ovídio.
Protagonizado pelo artista, o projeto desencadeou o interesse de Barata em explorar o próprio corpo como fonte de reflexão e matéria-prima de obras posteriores. “Experimenteiuma forte relação com o meu corpo por estar posando e misturei isso a uma tradição do autorretrato”, conta.
Também determinante para essa decisão foi a produção de seu segundo curta-metragem, Capitália (2002). Inspirado em outro clássico, a Divina comédia de Dante Alighieri, o filme sobrevoa a vida noturna no centro de Salvador e flagra seus personagens à luz dos pecados capitais.
No ano seguinte, explora a linguagem da instalação em O corpo como inscrição de acontecimentos, em que relaciona rostos e torsos de palavras/conceitos como “vigor” e “juventude”. Segue-se o vídeo Barrueco, realizado com Ayrson Heráclito em 2004, em que despontam elementos simbólicos da masculinidade e da negritude
Em 2007, volta a utilizar a própria imagem no vídeo Soco na imagem, em que boxeia com a câmera – e, por consequência, com o espectador e a tela – como se com um adversário ou espelho. Exibida em loop no 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC_Videobrasil, a obra chama atenção para a trajetória do autor.
Com ela, conquista uma residência artística que realiza em 2008 na Werkplaats voor Beeldende Kunsten Vrije Academie, em Haia. Nasce aí a série Panorama 360º, que ganharáoutros desdobramentos em 2009, em nova viagem à Holanda.
Nessa primeira leva de vídeos, o autor realiza uma espécie de “decupagem explícita” de registros feitos na Bahia; o que muda a cada episódio são os ângulos, velocidades, edições, personagens e recursos sonoros, em visões distintas dos mesmos fatos.
Na segunda fase da série, Barata trabalha com os historiadores João José Reis, Flávio dos Santos Gomes e Marcus J. M. de Carvalho para retratar a trajetória de um escravo africano que comprou sua alforria no Brasil, estudou árabe em Serra Leoa e foi preso sob suspeita de conspiração.
“Iniciei um trabalho complexo, que usa dez projetores para criar um ambiente imersivo com 360º de imagem em movimento sincrônico. Trata-se de uma estrutura interessante para pensar o conceito de vídeo expandido.”
Primeiro-secretário da nova diretoria da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (gestão 2009/2010), o artista também atua como representante regional da associação na Bahia – e integra ainda, como pesquisador, o Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Arte e Patrimônio.