Entrevista Ralph Borland, 04/2009
Como a situação política e social do Zimbábue influenciou sua vida e proposta artística?
A situação no Zimbábue é muito interessante e me deu muito material com que trabalhar. Minha família foi atacada no país em 2005 e desde então mora na Europa, em um exílio autoimposto. Gostaria de retornar ao Zimbábue para viver, quando a situação do país melhorar.
Qual é a história de Untitled (Zimbabwean Queen of Rave)?
Em 1991, eu estudava no mesmo colégio de John Miller, o irmão da popstar Rozalla, quando o onipresente single dela, Everybody’s Free (to feel good), foi lançado. Foi surpreendente ver uma canção zimbabuana no topo das paradas internacionais de música. Isso foi no auge da cena rave, e Rozalla se tornou conhecida como “A rainha da rave”. Essa também foi a época em que os protestos na África do Sul estavam fervilhando. Em Untitled (Zimbabwean Queen of Rave) eu combino alguns desses elementos e também acontecimentos posteriores como a minha experiência ao comparecer a grandes raves públicas na Europa e depois no Zimbábue. O vídeo expressa uma realidade pessoal e também a distância radical entre brancos e negros que eu estava vivenciando.
O vídeo fala da distância entre ser negro e branco, rico e pobre na África. Seu objeto The Big Five é uma bolsa em que as palavras “corrupção”, “crime”, “pobreza”, “Aids” e “racismo” aparecem sobre imagens da fauna africana. Como vê o continente hoje e seus maiores problemas?
Muitos dos problemas que a África enfrenta hoje vêm do fato de historicamente os africanos terem sido destituídos de sua cultura e identidade, forçados a viver na pobreza e em rebelião contra seus opressores. No caso do Zimbábue, isso terminou apenas há pouco, e os revolucionários que lutaram contra a velha guarda agora estão no governo. São pessoas que tiveram todos os seus direitos roubados; muitas foram presas injustamente. É compreensível que a corrupção e o crime tenham aparecido, já que estão tomando de volta o que lhes foi negado por um longo tempo. Sair das táticas de guerrilha destinadas a derrubar o governo anterior para a posição de governar o país responsavelmente, e levá-lo adiante, é um passo enorme. Gerações de amplos setores da população têm de ser educadas e então começar a se tornar responsáveis por uma boa governança. The Big Five trata de sintomas de uma história problemática, e muito mais longa. Reúne as ideias negativas associadas à África pelo mundo desenvolvido; os “cinco grandes” são as curiosidades culturais que eles levam para casa.
Como sua experiência em Zurique mudou ou aprofundou sua compreensão dos temas africanos?
Acho que uma grande parcela das pessoas que vivem nos países desenvolvidos tem uma visão muito distorcida da África. Muitas pessoas olham apenas o lado ruim; imagens chocantes de miséria e sofrimento. Também há muita felicidade na África. A experiência de ter vivido na Europa estimulou em mim a fascinação pela África e por meu país de origem. Eu me sentia um outsider na Suíça.
Ativismo e arte se complementam na sua criação?
Até certo ponto. Não sei se me definiria como um ativista per se. Eu me vejo como alguém que destaca certos temas e os deixa abertos para que o observador decida como quer agir a respeito, se é que o queira. Assim, eu me vejo não como um artista político no sentido tradicional, que é o de alguém que usa seu trabalho para forçar mudanças.
Quais projetos você está desenvolvendo agora?
Na 10ª Bienal de Havana, mostro uma instalação composta por sacolas de malha plástica. Essas sacolas se tornaram onipresentes entre os refugiados e imigrantes do mundo todo. Frequentemente são chamadas pelo nome de alguma demografia imigrante particular; na Nigéria, seu apelido é “fora, Gana”; no Caribe, “Samsonite guianense”; no Reino Unido, “sacolas de Bangladesh”; e, há pouco tempo, ficaram conhecidas na África do Sul como “sacolas do Zimbábue”. Venho trocando sacolas novas por sacolas usadas, com comerciantes africanos, em vários mercados. Na instalação, essas sacolas usadas são posicionadas no chão, de modo a formar um elemento do jogo eletrônico Space Invader, um motivo retrô de oito bits, que ficará visível apenas a partir de uma perspectiva aérea. A obra se refere aos aliens ilegais e à xenofobia que resulta da invasão de estrangeiros, especialmente de zimbabuanos na África do Sul.