Biografia comentada Eduardo de Jesus, 07/2004
Entre 1996 e 1999 Gisela Motta e Leandro Lima estudaram Artes Plásticas na FAAP, em São Paulo, e desde esse período trabalham juntos desenvolvendo uma obra instigante que relaciona de forma intensa o corpo, a imagem e a tecnologia, vista em diversas exposições.
A obra de Motta e Lima não se fixa em um só suporte, fazendo parte de seus trabalhos fotografias, vídeos, instalações e performances. Durante a abertura da exposição Grátis, na Galeria Vermelho (São Paulo, 2004), os artistas montaram um pequeno balcão para a venda de seus vídeos de arte, em VCDs e DVDs, denominados Genéricos, que foram vendidos por R$ 3,00, valor que cobria somente a matéria-prima. Durante toda a temporada da exposição os artigos continuaram à venda por esse preço de custo, uma performance que, de forma bastante crítica, posiciona os artistas em relação ao grande mercado da arte.
Em 2003 participaram da exposição “Modos de usar”, também na Galeria Vermelho, com a videoinstalação Que é de? (2003), uma obra que solicita a presença do visitante para revelar as imagens. A projeção é velada com uma forte luz e, ao gerar sombra diante da tela branca, o visitante percebe a imagem projetada. A imagem nos mostra, de forma quase onírica, um bosque no qual pessoas aparecem e desaparecem entre árvores, como num jogo entre o visto e o escondido, ou entre a imagem e a sombra na própria instalação.
Entre 2002 e 2003 os artistas participaram intensamente de um processo de criação, durante quase um ano, que culminou na exposição In ´vel (2003) na Galeria Vermelho. Nessa exposição mostraram Sem título#5 (2002), uma projeção de vídeo que revela um indivíduo imerso em um ambiente orgânico. A dupla também participou com Maurício Ianês e Edilaine Cunha da performance Interferência. Nesse trabalho os artistas alteram o sistema elétrico de pontuação usado nas competições profissionais de esgrima, que a cada golpe acertado registra e marca pontos. Na performance, ao contrário de marcar pontos, o sistema recebe e sintoniza sinais de rádio. Aqui parece que o corpo passa a ser interface e possibilita no seu movimento/duelo a comunicação.
Gisela Motta e Leandro Lima mostraram, além das obras realizadas em dupla, algumas desenvolvidas individualmente. Entre esses trabalhos Lima exibiu o vídeo Lótus, que mostra uma pessoa que esconde o rosto enquanto brotam folhas de seus braços. Também de Lima a instalação Interlúdio, um vídeo projetado com um besouro de ponta-cabeça e as inúmeras e inúteis tentativas de se desvirar, e Azul.dxf (1998/2003), fotografia de céu e oceano construídos de forma sintética. Essas obra participaram também, respectivamente, das exposições A subversão dos meios, no Itaú Cultural (2003, São Paulo), e A foto dissolvida, no SESC Pompéia (2004, São Paulo).
A participação individual de Gisela Motta na In ´vel foi com Retratos, uma contundente série de fotografias de imagens de estradas vazias no entorno de São Paulo com nomes de pessoas. As imagens chegam a impressionar pelo rigor das composições e pela amplidão da paisagem que envolve cada um dos nomes. Os espaços vazios das estradas, aparentemente sem vida, são nomeados e parecem ganhar um novo estatuto de “quase-pessoas”, de “quase-subjetividades” em contraposição à solidão e à dureza da estrada vazia.
Em 1999 realizaram o vídeo Sem título#4 que mostra, em loop, uma pessoa num balanço. Essa imagem, aparentemente simples, é produzida de um ângulo que acaba por distorcer as proporções, parecendo que a linha do horizonte se move constantemente em uma paisagem completamente sintética, o que gera um certo estranhamento. Parece ser outro mundo, com outras leis da Física. Esse vídeo foi exibido na Mostra Competitiva do 13º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil (2001), na mostra Experimentos Tropicais II no Pacific Film Archive, Berkeley, Califórnia (2001), e na exposição Imagética em Curitiba (2003).
Ainda em 1999, Gisela Motta e Leandro Lima participaram da exposição Outros Corpos, no Museu Brasileiro da Escultura, em São Paulo, no contexto do 2º Seminário Avançado de Semiótica e Comunicação. Nessa exposição apresentaram as videoinstalações Sem título#1 (1997) e Sem título#2 (1998), obras que se estruturam em torno das novas figurações do corpo.
No mesmo ano, na exposição Enigmas, na Galeria Brito Cimino, em São Paulo, a dupla mostrou o díptico Gisela e Leandro. Duas fotografias idênticas feitas com a fusão da imagem de duas pessoas. No fundo desses rostos aparecem interfaces de softwares de edição e processamento de imagens que revelam o universo particular da construção dessas imagens, o ambiente sintético das imagens geradas por inúmeros algoritmos no computador.