Como um jazzista que traduz em música sensações relacionadas à atmosfera que o rodeia, Nicolás Testoni materializa, com suas imagens industriais e marítimas, a realidade e as vivências da população de Bahía Blanca, no sul da Argentina – mais especificamente, dos moradores que vivem/viveram do trabalho no porto de Ingeniero White.
A comparação com a música não é fortuita. “Trabalho como o músico que, em outros tempos, acompanhava os filmes mudos com seu piano. Mas onde o pianista colocava notas, eu coloco imagens”, afirma o artista. Fala de trabalhos como Canto de aves pampeanas, premiado no 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC_Videobrasil (2007), em que apresenta paisagens atuais como complemento ao áudio de um documentário antigo do qual restou apenas o som. Ou S/T (White Noise), que reúne imagens domésticas, em super-8, de passagens da infância de um amigo, ao registro sonoro, preponderante, do cotidiano de Ingeniero White, impregnado de máquinas que não descansam.
Como bom jazzista, o argentino prefere romper com linhas tradicionais, desestabilizar expectativas de gênero e criar uma linguagem própria. Improvisa a partir de uma intensa investigação de campo, em que busca compreender e apreender memórias, visões de mundo e estratégias de sobrevivência engendradas em meio às transformações rápidas que fizeram do balneário um pólo petroquímico.
Em um universo circunscrito no espaço, encontra uma miríade de experiências relacionadas ao trabalho no porto, no pólo e no sistema ferroviário da cidade que demonstram a “habilidade furtiva de operar com restos para estabelecer com eles combinações inesperadas”, segundo descreve. Documentário e videoarte se encontram, em um processo de criação que termina por transformar os personagens em protagonistas – na frente e atrás das câmeras – não só de sua história, mas do modo em que se decide contá-la.
“Os trabalhos de Nicolás Testoni traduzem de forma contemporânea algumas das tensões da memória, das formas de arquivamento, das diluições entre formatos e gêneros audiovisuais, nos mostrando alguns dos caminhos pelos quais trilha a imagem eletrônica na atualidade, em seus enfrentamentos com a vida social”, analisa o crítico e curador Eduardo de Jesus, que assina Ensaio sobre Testoni.
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