“Ela: Acho que alguém está nos observando.
Ele: Hummm... E o que você achou do lugar?
Ela: Tem potencial, bastante personalidade. Vejo que você já pendurou alguns dos seus trabalhos. Logo você vai deixá-lo aconchegante, com jeito de casa."
O diálogo, travado por um casal que se senta à mesa e bebe vinho, inicia o delicado Background to a Seduction, do artista sul-africano Gregg Smith. Enquanto transita entre silêncios e trechos de conversa, o casal se mantém no mesmo lugar/cenário. Nós é que os observamos de ângulos e lugares diversos. Um sutil voyeurismo nos coloca em contato com uma narrativa solta no espaço. O lugar aqui é trânsito, passagem para a confluência de olhares sobre a cena. Selecionada para o 15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil (2005) e incluída no programa Itinerância Videobrasil 2006-2007, a obra serve de eixo a mais um FF>>Dossier da série Outros espaços, focada nas relações entre imagem e espaço.
Com uma trajetória artística consolidada, que transita entre pintura, performance e audiovisual, o sul-africano radicado na França Gregg Smith cria obras que freqüentemente se estruturam nas relações espaciais. Em vez de construir narrativas em torno do espaço, o artista faz dele quase um protagonista. Em seus trabalhos, usa os recursos do vídeo para alcançar uma outra forma do espaço, menos comprometida com a linearidade - “o espaço do que ainda não foi dito” - nas palavras da artista Jill Magid, que assina o Ensaio sobre a obra do artista incluído nesta edição do FF>>Dossier.
Tarimbado performer, Gregg Smith também atua em seus vídeos, criando com isso fortes conexões com o campo da performance. Com vídeos editados de forma muito simples, sem efeitos ou processamento de imagem, o artista avança na construção de trabalhos que resgatam o registro da performance, mas ampliam suas possibilidades criativas com a inclusão de fluxos narrativos que, ao contrário de aprisionar os sentidos, acabam abrindo, e muito, os processos de significação.
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