No centro da produção do artista e poeta Wilton Azevedo, que em seus projetos faz uso intenso tanto da palavra e seu sentido como da imagem e seus contextos, o centro de gravidade parece estar na crença, sempre reafirmada em quase três décadas de produção, na expansão e na mobilidade. Isso pode ser observado de diferentes modos: no uso que faz da tecnologia, no trabalho de recuperação do potencial transformador ainda possível para a prosa e a poesia neste novo século ou, talvez de forma mais evidente, na manutenção de uma otimista crença, a de que é necessário reconstruir a relação criador-espectador imaginando que a distância entre as partes em algum momento se dissolva.
Em operações como Interpoesia (2000), Loopoesia (2004) ou Quando Assim Termina o Nunca (2004), suas escolhas formais (com significativa herança e aroma do projeto concretista paulista) conduzem a um mesmo lugar, um ponto de encontro com o espectador no qual a posição de cada um é desafiada. A questão passa a ser a de uma obra poética não mais ofertada, mas compartilhada, no mais literal dos termos. Na definição do próprio artista, em Interpoesia – Manifesto Digital (1998): “Se no século 20, os manifestos artísticos foram considerados de alta importância para reunir as linguagens artísticas em relação a seus interesses semióticos, neste novo século a interatividade dá ao usuário a oportunidade de criar seu próprio manifesto: interação.”
A interatividade (assim como tecnologia ou virtualidade) tem sido uma experiência mais celebrada do que analisada nas duas últimas décadas – após a expansão da internet –,transformando-se rapidamente em signo supremo do período de globalização econômica, de diálogos multiculturais e de “fim da distância” proporcionado pela era digital. Nela existiria uma aparente participação inédita do mundo. Mas, nos sons, histórias e versos trabalhados por Wilton Azevedo, todo esse projeto se mostra política e esteticamente inacabado, ainda em potencial. A expansão e a mobilidade devem ser perseguidas em meio ao discurso sobre eficiência, racionalidade e poder da tecnologia. Esta, agora uma missão do artista.
Wilton Azevedo é o segundo artista na série Operação para as Massas, integrada ainda por Arnaldo Antunes e a dupla Celia Catunda e Kiko Mistrorigo. Ela propõe a investigação da presença do Projeto Construtivo Brasileiro na produção nacional hoje a partir de seu mais revolucionário potencial: estabelecer uma relação criativa com a sociedade.
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