Texto de apresentação 2000
William Kentridge, documentário
O Videobrasil está lançando o primeiro de uma série de documentários sobre Arte Eletrônica, acervo que será composto de lançamentos anuais. O primeiro título cabe ao artista sul-africano William Kentridge, um dos nomes presentes à Mostra Africana de Arte Contemporânea em São Paulo, e tem o patrocínio do Prince Claus Fund. A idéia da série é mostrar a obra, o processo criativo e o cotidiano de um artista através dos olhos de um documentarista escolhido especialmente para o trabalho, que assinará o filme como autor. Os documentários serão distribuídos para museus, escolas, centros de mídia e televisão. Ao contrário dos documentários tradicionais, que em geral adotam o formato de entrevista entremeada de imagens do trabalho do artista, os filmes desta série se pretendem criativos e inovadores com relação à linguagem empregada. Para este primeiro trabalho o documentarista escolhido foi Alex Gabassi. Nascido em 1967 em São Paulo, Alex é diretor de documentários, tendo trabalhado com este formato em programas como o "Red Hot + Rio", para a Red Hot Organization de Nova York, e a série "MTV Na Estrada", para a MTV Brasil,quando caía na estrada com os músicos em suas turnês pelo país. Alex Gabassi passou dez dias com Kentridge em sua casa em Joanesburgo. Durante esse período, Gabassi esteve com o artista em seu estúdio, visitou as paisagens retratadas por Kentridge em seu trabalho, entrevistou colaboradores, fez uma visita ao sítio do artista e o acompanhou a Grahamstown para uma palestra sobre o pintor Tiepolo dada por Kentridge. Gabassi comenta esse período de filmagem no relato a seguir. Em São Paulo, acompanhou o artista durante todo o processo de montagem de suas obras no espaço de exibição, registrando a sua relação com o espaço, com o público e com os outros artistas, e explorou as diferenças e semelhanças entre São Paulo e a cidade natal de Kentridge, Joanesburgo. O filme apresenta imagens destes dois momentos.
ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL e SESC SÃO PAULO, "Mostra Africana de Arte Contemporânea": de 16 de agosto a 17 de setembro de 2000, p.94, São Paulo, SP, 2000.
Texto de apresentação 2006
extras DVD + sobre o artista + sobre o diretor Os extras O documentário inclui um making of da montagem de "Screensaver", instalação que Kentridge criou em São Paulo, com comissionamento da Associação Cultural Videobrasil. Na obra, projeções transformam os vidros de um carro num inesperado aquário por onde transitam peixes de diferentes cores. A imagem, lembra Kentridge, cria uma ambigüidade: o que se vê é a água, ou um fundo virtual, como num descanso de tela de computador? O artista William Kentridge nasceu em 1955 e cresceu nos subúrbios brancos de um país dividido, longe do eixo Europa-Estados Unidos. Descendente de judeus lituanos e alemães, vem de um ambiente liberal e crítico ao regime do apartheid. Graduou-se em belas artes e estudos africanos. O isolamento geográfico contribuiu para sua escolha do desenho, desvinculado de movimentos de pintura com os quais não se identificava. Questões pessoais e sociais marcam a obra de Kentridge. As referências à história de seu país são constantes, mas nunca explícitas: a política surge através de tormentos pessoais, culpas, dúvidas. Seu traço e sua abordagem já foram comparados aos de expressionistas como o alemão Otto Dix. O diretor Produtor e diretor independente, Alex Gabassi foi assistente de direção e stage manager da companhia inglesa de teatro físico Theâtre de Complicité, em Londres. Produziu instalações e uma mostra do artista americano Bill Viola para o Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil (1992). Dirigiu séries e especiais para a MTV Brasil. Realizou videoclipes para Marisa Monte, Caetano Veloso, David Byrne e Carlinhos Brown. Para a série Videobrasil Coleção de Autores, também dirigiu o documentário "Um Olhar sobre os Olhares de Akram Zaatari" (2004) e co-dirigiu "Rafael França: Obra como Testamento" (2001). Dirigiu o documentário "Sobre o Nome" (2001) e filmes publicitários.
Texto do artista Alex Gabassi, 2000
Relato do documentarista Alex Gabassi "’A idéia de tê-lo aqui filmando meu cotidiano por dez dias me faz querer sair correndo.’ Foi assim que William Kentridge respondeu a meu primeiro e-mail. É claro que eu também correria: como eu poderia me relacionar com um cara que não fala minha língua direito e vem de um país que não se vê muito nos jornais? O que é que ele quer? Sabe, William, eu também não sabia. Mas esta dúvida logo se dissipou quando, no primeiro dia, Kentridge me convida para visitar seu sítio. "Não conhecendo seu trabalho em profundidade, e tendo apenas dez dias para me aclimatar ao lugar e à pessoa, eu decidi observar sua rotina, não interferindo muito, escutando os passarinhos do lado de fora do estúdio e a respiração pesada do artista. ‘Meu Deus, que microfone sensível!’ "Visitamos o sítio de Kentridge, onde passamos o domingo falando sobre o Brasil e a influência da paisagem sul-africana em seu trabalho. Ao perguntar sobre a ausência de cor em seus desenhos e opinar que diante daquela linda paisagem era uma pena, ele respondeu que o que o interessava era a linha, a linha da paisagem, as linhas recortadas contra o céu. "No sítio conversamos livremente, nada muito profundo. Acho que estudávamos um ao outro. Kentridge é muito discreto. Um tipo que responde às suas perguntas e subitamente mergulha em profundo silêncio como querendo ser atingido pela inspiração, ou esperando a entrada de alguma música ou simplesmente minha próxima pergunta, sei lá, talvez ele esteja simplesmente entediado. Bem, para mim é bom, já que me dá tempo de enquadrá-lo direito e checar se as baterias da câmera estão ok. Eu mostrei uma imagem que capturara de Sam, seu filho, que podia ser visto em meio aos arbustos ao seu lado durante a gravação da entrevista. Kentridge se emocionou. Eu acho que essa imagem, de certa forma, deu o tom da entrevista. Foi aí que nos conectamos! "No dia seguinte marcamos de nos encontrar em sua casa às 10 horas. A indicação do endereço era 72, Houghton Road. ‘Você viu "Stereoscope"?’ ‘Sim…’ ‘Quando você passar por uma casa cujo portão de entrada tenha dois gatos pretos de metal (com cara de eletrocutados), é lá…’ "As ruas são ladeadas por numerosas árvores, e eu descubro que a maioria delas não é natural da África, mas vêm da Austrália. ‘Veja você, elas estão aí não faz cem anos’, diz William. E completa: ‘Parece São Paulo’. Algo clica e me diz que nada é muito natural nessa parte de Jo'Burg. ‘É, William, isso pode parecer São Paulo, mas cadê o povo na rua?’ "Kentridge estava trabalhando com ‘paper cut-outs’, pedaços de cartolina preta recortados que ele vai juntando e transformando em personagens. É um misto de colagem com teatro chinês de sombras. Esses personagens, assim como a maioria dos trabalhos que ele tem feito atualmente, integram a série que ele chama de 'Shadow Procession'. São pedaços de papel recortados e colados nas páginas de uma velha Enciclopédia Larousse ou em mapas-múndi antigos, esculturas (que estão espalhadas por todo o estúdio) e uma versão de um objeto do séc. XIX chamado ‘phenakistiscope’. Durante três dias ficamos às voltas com esses ‘cut-outs’ e visitas à Artists Press, local onde a maior parte das litografias de Kentridge são impressas. "William passou horas retocando esses personagens de sombra na Artists Press e a única coisa que eu conseguia pensar era: ‘Que luz horrível este lugar tem, alguém deveria explodir todas as fábricas de luz fluorescente!’. ‘Então, William, tem alguém com quem eu possa falar, seus colaboradores, para que eu possa conhecê-lo um pouco melhor?’ "Eu precisava de mais gente neste documentário. Eu precisava extrair alguma emoção, algum comentário irreverente sobre William. Como é que alguém que faz uma arte tão envolvente, profunda e cheia de simbolismos pode ser tão cerebral? ‘O que te inspira, William? O que te move?’ ‘Eu não acredito em inspiração, Alex.’ ‘Mas e as transformações, os desenhos, há um elemento intuitivo aí, não é?’ "Meus pés congelavam todas as noites e, apesar da experiência de ter vivido em Londres, só em Jo’Burg vim a saber que é melhor colocar o aquecedor perto dos pés e não perto da cabeça. "Vinte e oito de junho. Jardim de Kentridge, hora do almoço. Seus amigos chegam. "Apesar de ser inverno, o sol era forte. Acho que o Brasil está na mesma linha que a África do Sul, no mapa. Talvez um pouco abaixo. Em Jo’Burg, faz sol durante o dia e um frio gélido durante a noite. "Com o sol brilhando, entrevistei Angus Gibon, montador dos primeiros filmes de Kentridge. ‘Sim, havia um primeiro filme do qual me lembro, "Sales Talk", acho que era esse o nome. As pessoas não deram atenção a ele, mas eu vi algum gênio nele. William fazia teatro naquele tempo... Eu lembro que alguém na mesa de edição dizia: Tenho pena desse cara, o Kentridge. Acho que ele jamais encontrará um lugar para si. Ele faz muitas coisas e nada ao mesmo tempo. Veja, eu acho que ele é bom nelas todas. Sua arte é um amálgama de todas estas artes, filme, teatro, escultura...’ Sim, Angus, era bom, mas não o suficiente. "Jane Taylor escreveu "Ubu and The Truth Commission" com William. Meu Deus! Ela é inteligente... e clara. Outra. Jane é o tipo de pessoa com quem você quer passar horas bebendo e filosofando. ‘Qual é a primeira palavra que você associa a William, Jane?’ ‘Perda.’ Hummmm, esta é a palavra que vou guardar. "De volta à mesa do jantar. ‘Todo mundo está aí? Qual é a primeira imagem do Brasil que vem à sua mente? Futebol.... música" pergunta Phillip, compositor de muitas das trilhas sonoras dos filmes de Kentridge. ‘A arquitetura, as estradas largas, os condomínios fechados, as árvores de jacarandá’, diz William.. ‘Eu temo e desejo que São Paulo seja o que Jo’Burg será em cinco anos. Espero que a África do Sul, um dia, seja o que o Brasil é hoje.’ Todos concordam. De fato, é um país cheio de cor."
ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL e SESC SÃO PAULO, "Mostra Africana de Arte Contemporânea": de 16 de agosto a 17 de setembro de 2000, p.95-97, São Paulo, SP, 2000.
Lista de circulação da obra 2007
Lançamentos, exibições e acervos - "Certas Dúvidas de William Kentridge" lançamentos: 2001_ - Usina do Gasômetro (Sala P. F. Gastal), Porto Alegre - Mostra de Vídeo Itaú Cultural, Belo Horizonte 2000_ - Mostra Africana de Arte Contemporânea, Cine SESC, São Paulo exibições: 2007_ - Videobrasil Coleção de Autores, IBRACO, Colômbia 2006_ - Retrospectiva Videobrasil Coleção de Autores, Unidade Provisória SESC Avenida Paulista, São Paulo - 1º Dockanema - Festival do Filme Documentário, Maputo, Moçambique - Arte e História em Documento, Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza - Arte em vídeo: a expressão por imagens em movimento, Videoteca PUC-SP, São Paulo - Shoot Me Film Festival, Den Haag, Holanda - VCA na Bahia, Dimas - FUNCEB, Salvador - Videobrasil Colección de Autores, La Diferencia, Colômbia 2005_ - TV Chapada, Canal 13 - Le Plateau, Frac Ile-de-France, França - Video/economy – Distributions in Global Format, ZKM, Alemanha 2004_ - 45º Festival dei Popoli, Firenze Itália 2003_ - Ciclo de Cortos, FUNCEB, Buenos Aires 2002_ - Itinerância Videobrasil 2002 - SESC São Paulo - Mostra Itinerante Videobrasil 2002: SESC Arsenal, Cuiabá - Vídeo em Debate 2002 - Produção, Pesquisa e Circuitos, Museu Victor Meirelles, Florianópolis - XX Festival International du Film Sur L'Art, Quebec-Canadá - XXVI Festival International du Film D'Art et Pédagogique, Paris-França 2001_ - Sessão da Tarde - Retrospectiva Videobrasil no Centro Cultural São Paulo, São Paulo - Paço das Artes, São Paulo - Mostra Vídeo - abril 2001, Itaú Cultural, Belo Horizonte 2000_ - Programa "ZOOM", TV Cultura acervos: - Acervo da videoteca do Itaú Cultural, São Paulo - Acervo da Fundação Japão - Acervo da Associação de Amigos do Centro Universitário MariAntonia USP, São Paulo - Acervo do CCA - The Center for Contemporary Art, Tel Aviv, Israel - Acervo do Hong Kong Arts Centre, Hong Kong - Acervo Internationale Kurzfilmtage Oberhausen, Alemanha - Acervo Videobrasil no Paço das Artes, São Paulo (de 2001 a 2003) - Acervo Videobrasil na PUC Minas, CEIS - Centro de Experimentação em Imagem e Som, Belo Horizonte - Acervos de videoteca pública nas escolas EE Madre Paulina, EMEF Antônio Carlos de Andrada e Silva, EE Condessa Filomena Matarazzo, Centro Municipal de Educação Adamastor, e nos órgãos administrativos da rede escolar Diretoria de Ensino Leste 1, Coordenadoria de Educação Ermelino Matarazzo, Coordenadoria de Educação de São Miguel/Jardim Helena, Coordenadoria de Educação de São Miguel/Vila Jacuí, Coordenadoria de Educação de São Miguel/São Miguel Paulista (doação de nove cópias feita através da Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e Informação), São Paulo - Biblioteca do Instituto de Artes da UNICAMP, Campinas - Biblioteca Maria Braz (SESI/FIESP), São Paulo - Midiateca Le Plateau, Frac Ile-de-France, França