Ficha técnica complementar
participantes - Achiles Luciano, André Montenegro, Cassio Martins, Cibele Lucena, Daniel Lima, Eugênio Lima, Felipe Martineau, Felipe Teixeira Gonçalves, Fernando Coster, Fernando Sato, Iramaia Gongora Lima, João Nascimento, Julio Dojcsar, Maurinete Lima, Maysa Lepique, Nô Cavalcanti, Pedro Guimarães, Roberta Estrela D´Alva, Robson de Souza e Silva e Sônia Montenegro
Texto de apresentação 2005
Futebol – Frente 3 de Fevereiro
Arena de pretensa igualdade social e racial e, ao mesmo tempo, palco onde se revelam preconceitos arraigados, o campo de futebol inspira a performance da Frente 3 de Fevereiro, grupo que pesquisa o racismo em busca de rumos para ações artísticas e políticas. O nome é uma alusão à data da morte do jovem negro Flávio Ferreira Sant’Ana, assassinado no ano passado por seis policiais de São Paulo, após ser confundido com um ladrão; o manifesto fundacional, de 2004, declara que o objetivo é “trazer à tona o que a Justiça e a grande mídia tentam esquecer: o racismo à frente da cidadania”. Um dos integrantes, Daniel Lima, criou uma ponte laser sugerindo união entre Salvador e África, na Mostra Pan-Africana de Arte Contemporânea, em Salvador, em março de 2005, e tratou de racismo em criações anteriores, como na série de fotos “Blitz” (2002), em que sorri ao lado de policiais.
“Futebol” parte do episódio ocorrido em abril de 2005 entre os jogadores Leandro Desábato, do time argentino Quilmes, e Grafite, do São Paulo. Autuado por racismo por ter chamado Grafite de “macaco” e “negro”, o atleta argentino ficou dois dias preso. O caso migrou das páginas esportivas para os relatórios policiais e levou o grupo a uma nova rodada de investigações sobre racismo. Para coletar material para a performance, fizeram intervenções em jogos do Brasil e da Argentina, em colaboração com o Grupo de Arte Callejero, coletivo argentino de fotógrafos, artistas plásticos e designers que praticam ações de rua. Percussionistas e DJs acompanham as projeções na encenação de “Futebol”.
Acompanhadas por multidões e transmitidas em rede nacional, as partidas de futebol são uma situação de potente exposição do racismo, diz Daniel Lima. Em “Futebol”, a Frente 3 de Fevereiro quer tratar também do racismo herdado, reproduzido e auto-aplicado. “O que me interessa é pensar como esse passado se manifesta no cotidiano. Como podemos, através de elementos disparadores, evidenciar seus mecanismos”, diz Lima, também um dos fundadores do grupo A Revolução Não Será Televisionada, que associa videoarte e ativismo. “Trabalho com intervenções porque o espaço público de São Paulo sempre me chamou a atenção; com racismo, porque isso me atinge e transforma minha identidade; com mídia, porque me interessa pensar como ressignificar a carga gigantesca de informação que recebemos todos os dias e que, afinal, nos desinforma”, completa o artista.
ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil - 'Performance.'": de 6 a 25 de setembro de 2005, p.132 e 133, São Paulo-SP, 2005.
Texto de imprensa Adriana Ferreira, 06/09/2005
Coletivo questiona racismo no futebol
DA REPORTAGEM LOCAL
O futebol não é o tema de "Futebol", performance do coletivo de "artivismo" Frente 3 de Fevereiro que abre hoje o Videobrasil. Motivado pelo episódio ocorrido em abril deste ano, durante um jogo entre os times São Paulo e Quilmes, da Argentina, em que o jogador argentino Leandro Desábato ofendeu o brasileiro Grafite, o grupo desenvolveu uma série de intervenções que desembocaram nessa apresentação, um mix de teatro, música e vídeo, cuja temática é a mesma que levou a formação da Frente: o racismo.
"O futebol tenta ser o espetáculo da harmonia racial. É interessante investigar como o caso acabou em uma ofensa racial, quebrando a idéia de que esse é um ambiente harmônico", acredita o artista plástico Daniel Lima, 32.
A elaboração da performance começou dentro de estádios de futebol: o grupo foi a jogos levando bandeiras de 20 m x 15 m, onde estavam escritas frases como "Onde estão os negros?". "O estádio de futebol pode ser utilizado para ações na mídia", diz Lima. "A primeira bandeira foi exibida pela Globo. Transformou-se em um espetáculo do jogo."
O registro em vídeo dessas intervenções, mais um trabalho de pesquisa sobre a repercussão do incidente na mídia, resultou em "Futebol", que reúne cerca de dez pessoas, entre elas, o DJ Eugênio Lima, atores do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e artistas de outros coletivos de "artivismo".
O motivo que levou toda essa gente a se mobilizar e formar a Frente 3 de Fevereiro foi a morte -em 3/2 de 2004- do dentista negro Flávio Ferreira Sant'Ana, assassinado por policiais que o confundiram com um ladrão. "Isso agregou pessoas de diversas áreas, e, desde então, tentamos fazer ações pontuais", afirma Lima, que também é negro.
"Como negro, sei que essa teoria da democracia racial aceita pelo brasileiro não se realiza", diz ele. "Os meios para discutir o tema racial no movimento negro precisam ser atualizados." (AF)
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Futebol
Quando: hoje, às 21h
FERREIRA, Adriana. "Coletivo quetiona racismo no futebol". Folha de São Paulo, 6 de setembro de 2005, Ilustrada.