Entrevista 2003
Entrevista cedida pela artista ao 14º Videobrasil
Atualmente, verifica-se nas culturas locais o desafio de reinventar as memórias pessoais e coletivas, sem deixar que elas se esvaziem frente aos fluxos de comunicação global. A seu ver, como este desafio se traduz nas experiências da artemídia?
"As memórias em si não são importantes, somente quando elas se transformam em nosso próprio sangue, nosso olhar e nosso gesto, e forma inomonáveis, não mais distintas de nós mesmos – só então, em um precioso momento, pode acontecer do primeiro verso de um poema faze-la ressurgir e conduzi-la adiante." Rainer Maria Rilke As tecnologias do vídeo digital possibilitam a decodificação de movimentos, gestos, comportamentos, distâncias e experiências colocando simultaneamente o espectador no tempo do artista. Na vídeo performance corpo e maquina são ao mesmo tempo contexto e conteúdo, interpenetrando-se na construção de seus significados. "Seqüências de Imersão" é uma investigação pessoal em vídeo que trata da memória visual e das memórias do corpo, criando alternâncias entre o corpóreo e o virtual. A fragmentação da imagens é conseqüência da desconstrução de seqüências produzidas pelo cérebro. São invertidas as regras do tempo. Parte-se do fim caminhando para o inicio, reconstruindo uma narração. Poucos minutos onde se concentram imagens, sentimentos, medos e sensações físicas da memória. Memória fotográfica. Memória visual. O corpo é o sujeito e suas memórias o predicado.
No contexto de abordagem dos meios eletrônicos-digitais , interessa-lhe as questões do corpo? Como o corpo aparece em sua obra?
Minha relação com o corpo humano estabeleceu-se, primeiramente, porque possuo uma longa experiência em Dança. A Dança foi a circunstância na qual tomei consciência de meu corpo plenamente, questionando suas condições e sua plasticidade. As dores, sofrimentos e percepções musculares envolveram os processos de consciência corporal e o conhecimento das possíveis fragmentações corporais perceptivas, resultado da intensificação de dores e outras sensações em determinadas partes do corpo. Percepções e reflexões sobre o corpo humano, suas relações com o intelecto (consciência), as marcas e sensações das fragmentações e sua plasticidade vem sendo o eixo condutor de minhas pesquisas visuais, assim como concepções e noções de memórias físicas e a descontinuidade (fragmentação) que estas memórias apresentam. No vídeo “Seqüências de Imersões” o corpo é sujeito do discurso. Um corpo sem inicio nem fim, sem identidade. Um corpo vestido de roupa, desnudo de sentido. Em embate direto, é a câmera que acompanha toda a ação, questiona e traz a tona os conteúdos do corpo. O corpo em performance e em relação direta com a câmera constrói a ação videográfica.
Associação Cultural Videobrasil