Depoimento 2019

Transcrição de depoimento para a 21ª Bienal

Em um contexto cotidiano, exploro formas em que os estereótipos e os meios de comunicação definiram minha percepção da negritude e da identidade nacional. Minha realidade foi esboçada a partir da alteridade e negada ao mesmo tempo pela história do meu país. Não existe uma verdadeira expressão da história e da cultura do descendente “afro” na Costa Rica, os conteúdos institucionais nunca se aproximaram de definir minha negritude para além da celebração do “Dia do Negro”.

A sátira e o simbolismo são empregados para a encenação exagerada de autodepreciações e ironias, com a intenção de reconfigurar o poder hierárquico, as concepções coloniais e ideologias eurocêntricas, buscando subverter sistemas de crenças sociais presentes na psique nacional costarriquenha. Nesse sentido, questiono a história e os meios de comunicação na configuração de um imaginário nacional a partir da negritude costarriquenha.

Busco romper a noção dominante de que “o outro” é uma entidade/identidade estranha. Creio ser útil situar meu trabalho dentro da teoria conceituaI e visual que chamo de Tecnologías Deculoniales , uma pesquisa contínua que visa ampliar a análise das políticas institucionais e as práticas sistêmicas de representação e da globalização tecnológica. Exploro meios de produção artística e de compartilhamento de conhecimentos com colegas artistas, com olhar crítico sobre as noções eurocêntricas e institucionalizadas de estética, lugar e raça.

Além disso, faço uma exploração do deslocamento geopolítico dos corpos humanos – contemporâneos e históricos – em que o recém-chegado é confrontado com uma normalização ideológica por parte de seu novo anfitrião, que considera “o outro” como alienígena/estrangeiro. Sou atraído pelas percepções construídas de um novo “lar”. A pessoa refugiada forma uma noção de pertencimento e identidade. Usando imagens e objetos modernos e históricos da cultura popular, minha obra explora o papel crítico que os significantes culturais podem desempenhar na formação de uma identidade nacional, especificamente a autoidentidade do afro-latino historicamente deslocado.

As imagens usadas na instalação No le Digas a Mi Mano Derecha lo que Hace la Izquierda são apresentadas como múltiplas camadas ­– oferecendo perspectivas múltiplas – de configurações sociais: a primeira, a ideia de que a Costa Rica omitiu de sua história e de sua identidade nacional a ideia de negritude nos livros e na música. Seguindo essa investigação de raça e classe, a segunda camada aborda a interação das imagens relacionadas às teorias e à poesia. A ironia é de alguma forma usada na abordagem desses assuntos. Interesso-me pela investigação de conceitos como a ideia da máscara como forma de zombaria através da difamação, associada a aspectos pós-coloniais de raça e nacionalidade. Aqui, a aplicação (i)material de máscaras e/ou o mascaramento do corpo evoca problemáticas históricas que incluem, mas não se limitam, a rituais sociais de difamação, práticas etnológicas e assimilação.

Meu trabalho fornece uma contra narrativa histórica, explorando a experiência subjetiva do colonialismo e da dominação em relação à máscara entre colônias. A obra enfatiza meu próprio corpo, o corpo negro, como plataforma para a representação e para o diálogo.

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