Nova exposição reúne jovem produção negra brasileira

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postado em 11/08/2017
Conheça as e os artistas que integram Agora somos todxs negrxs?. Abertura será em 31 de agosto, às 19h, no Galpão VB

Agora somos todxs negrxs?, que inaugura em 31 de agosto no Galpão VB, é a primeira exposição a reunir a jovem produção negra brasileira a artistas consagrados.

Com curadoria de Daniel Lima, a mostra conta com 15 artistas nascidos, em sua maioria, nas três últimas décadas do século 20. Trabalhando com frequência na interseção entre as questões raciais e de gênero, elas e eles mostram mais de 20 obras (entre vídeos, fotografias, desenhos, esculturas, instalações e performances) que refletem o amadurecimento da discussão sobre as identidades e negritudes no Brasil – marcada, nos últimos anos, pela pluralidade e pelo crescente protagonismo do feminismo negro e do transfeminismo nas lutas sociais e estéticas.

A inspiração para o título da exposição é o Artigo 14 da Constituição do Haiti, de 1805, que reestruturou as leis do país a partir da única revolta escrava que tomou o poder na América. Nas palavras de Daniel Lima, a retomada do enunciado haitiano “aponta para uma nova situação política, na qual lutamos, em cada prática artística individual e coletiva, pela expressão de uma voz historicamente silenciada”. A mostra pretende colocar em perspectiva o papel de negras e negros na sociedade brasileira, reelaborando símbolos da história nacional.

Ao longo de todo o período da exposição estão programadas diversas atividades abertas ao público, como encontros e debates com o curador, artistas e pensadores negras e negros, além de apresentações e performances de coletivos de artistas. As ações têm como objetivo ampliar o repertório mobilizado na exposição, contribuindo para a elaboração de novas formas de militância política e estética.

Agora somos todxs negrxs? é parte de um trabalho contínuo do Videobrasil, que há mais de três décadas busca lançar luz sobre temas, artistas e práticas muitas vezes negligenciados pelo mundo das artes. A mostra encerra a programação de 2017 do Galpão VB, que tem buscado refletir sobre as relações entre arte e política. A partir de 3 de outubro, desdobramentos dessas questões ganharão destaque também no 20º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, que trará a São Paulo as cosmovisões e as lutas políticas e estéticas de 50 artistas oriundos de 25 países do Sul Global.

Sobre o curador

Daniel Lima é bacharel em artes plásticas pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), mestre em psicologia clínica pelo Núcleo de Estudos da Subjetividade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e doutorando em meios e processos audiovisuais pela ECA-USP. Desde 2001 cria intervenções e interferências no espaço urbano. Próximo de trabalhos coletivos, desenvolve pesquisas relacionadas a mídia, questões raciais e processos educacionais. Membro fundador dos coletivos A Revolução Não Será Televisionada, Política do Impossível e Frente 3 de Fevereiro. Dirige a produtora e editora Invisíveis Produções.

 

Artistas

Ana Lira (Caruaru, PE, 1977)
Fotógrafa, artista visual e pesquisadora independente, é pós-graduada em teoria e crítica de cultura pela Universidade Federal de Pernambuco. Seu trabalho se debruça sobre as relações de poder e suas implicações nas dinâmicas de comunicação. Mostras: Pinacoteca do Estado de São Paulo (2017); 31ª Bienal de São Paulo (2014); Museu do Estado de Pernambuco (2008). Vive e trabalha em Recife.

Ayrson Heráclito (Macaúbas, BA, 1968)
Artista, curador e professor, é doutor em comunicação e semiótica pela PUC-SP. Suas obras lidam com os mitos, medos e marcas que acompanham a cultura afro-brasileira. Mostras: 57ª Bienal de Veneza (2017); Afro-Brazilian Contemporary Art, Europalia.Brasil (Bruxelas, 2012); Trienal de Luanda (Angola, 2010). Vive e trabalha em Salvador.

Daniel Lima (Natal, RN, 1973)
Veja nota biográfica sobre o curador.

Dalton Paula (Brasília, DF, 1982)
É formado em artes visuais pela Universidade Federal de Goiás. Sua obra parte do corpo como elemento basilar, reapresentando corpos negros em outras histórias e estruturas, e faz referências às religiões de matriz africana. Mostras: 32ª Bienal de São Paulo (2016); Instituto Superior de Arte de Havana (2016); Museu Bispo do Rosário (Rio de Janeiro, 2016); Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2014). Vive e trabalha em Goiânia.

Eustáquio Neves (Juatuba, MG, 1955)
Artista visual e fotógrafo autodidata, aborda em sua produção questões sociais, raciais e temáticas relativas à identidade e à memória da cultura afrodescendente. Mostras: Bienal de São Paulo-Valência (2007); 5° Rencontres de la Photographie Africaine (Bamako, 2003); 6ª Bienal de Havana (1997); Pinacoteca do Estado de São Paulo (1996 e 1998). Vive e trabalha em Diamantina.

Frente 3 de Fevereiro (São Paulo, SP, 2004)
Grupo transdisciplinar de pesquisa e ação direta com foco no racismo na sociedade brasileira. Formado por: Achiles Luciano, André Montenegro, Cássio Martins, Cibele Lucena, Daniel Lima, Daniel Oliva, Eugênio Lima, Felipe Teixeira, Felipe Brait, Fernando Alabê, Fernando Coster, Fernando Sato, João Nascimento, Julio Dojcsar, Maia Gongora, Majoí Gongora, Marina Novaes, Maurinete Lima, Pedro Guimarães, Roberta Estrela D’Alva e Will Robson. Mostras: Museu de Arte do Rio (2015); Museo Universitario Arte Contemporáneo (Cidade do México, 2014); Living as Form (Nova York, 2011). O coletivo é baseado em São Paulo.

Jaime Lauriano (São Paulo, SP, 1985)
Artista visual, graduado em artes pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Sua produção evidencia os processos de subjetivação moldados pelas instituições de poder, propondo uma revisão e reelaboração coletiva da história. Mostras: 10th Bamako Encounters (2015); Pinacoteca do Estado de São Paulo (2015); 2nd Biennale of Young Art (Moscou, 2010). Possui obras nas coleções da Pinacoteca do Estado de São Paulo e do Museu de Arte do Rio. Vive e trabalha em São Paulo.

Jota Mombaça (Natal, RN, 1991)
Ensaísta e performer, parte do corpo como vetor de criação e de ação para abordar as relações entre monstruosidade e humanidade, estudos kuir (queer), giros descoloniais, interseccionalidade política e tensões entre ética, estética, arte e política nas produções de conhecimentos do sul-do-sul globalizado. Participação em residência artística junto ao Capacete 2017, na documenta 14 (Atenas; Kassel). Performances: Instituto Goethe (São Paulo, 2014); Pinacoteca do Estado do Rio Grande do Norte (Natal, 2013); Casa Selvática (Curitiba, 2013). Vive e trabalha em Natal.

Luiz de Abreu (Araguari, MG, 1963)
Bailarino e performer cujo trabalho investiga os estereótipos relacionados ao corpo negro. Apresentou-se em festivais de dança contemporânea na França, Alemanha, Portugal, Croácia, Cuba, Espanha e Brasil. Performances: Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2009); Mostra Sesc de Dança (São Paulo, 2001). Sua peça O samba do crioulo doido integra o acervo de videodança do Centre Georges Pompidou, em Paris. Vive e trabalha em São Paulo.

Musa Michelle Mattiuzzi (São Paulo, SP, 1983)
Performer, escritora e pesquisadora, graduada em artes do corpo pela PUC-SP. Seus trabalhos se apropriam do e subvertem o lugar exótico atribuído ao corpo da mulher negra pelo imaginário cisnormativo branco, que o transforma numa espécie de aberração, entidade dividida entre o maravilhoso e o abjeto. Em 2012 e 2013, colaborou com os coletivos GIA, da Bahia, e Opavivará, do Rio de Janeiro. Em 2017, participou como residente do Programa Capacete no Programa Público da documenta 14, com curadoria de Paul B. Preciado. Vive e trabalha em Salvador.

Moisés Patrício (São Paulo, SP, 1984)
Artista visual e arte educador, formado em artes plásticas pela USP. Membro fundador do Coletivo Artístico Dialéticas Sensoriais (CADS). Sua produção aborda paisagens urbanas da periferia das metrópoles e elementos da cultura latina e afro-brasileira. Mostras: 12ª Bienal de Dacar (2016); Museu Afro Brasil (São Paulo, 2014); Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (Rio de Janeiro, 2014). Vive e trabalha em São Paulo.

Paulo Nazareth (Governador Valadares, MG, 1977)
Artista visual e andarilho, percorreu longos trajetos por diversos países, acumulando vivências, objetos e imagens, e realizando atos performáticos. Mostras: 55ª Bienal de Veneza (2013); 12ª Bienal de Lyon (2013); Bienal de Montevideo (2013); Museu de Arte de São Paulo (2012); Centro Cultural São Paulo (2009). Vive e trabalha em Belo Horizonte.

Rosana Paulino (São Paulo, SP, 1967)
Artista visual, pesquisadora e educadora, com doutorado em artes visuais pela USP e especialização em gravura pelo London Print Studio. Sua obra tem como principal preocupação a posição da mulher negra na sociedade. Mostras: Goodman Gallery (Cidade do Cabo, 2017); Galeria Superfície (São Paulo, 2016); Galería Fernando Pradilla (Madri, 2016); Pinacoteca do Estado de São Paulo (2015); Espace Culturel Fort Griffon (Besançon, 2014). Vive e trabalha em São Paulo.

Sidney Amaral (São Paulo, SP, 1973 – São Paulo, SP, 2017)
Pintor, escultor e desenhista, formado em artes plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo. Sua obra se apropria de cenas e objetos do cotidiano com elementos de estranhamento, ironia e sarcasmo, tocando em questões sociais e raciais. Exposições: Pinacoteca do Estado de São Paulo (2017); Galeria Tato (2016); Central Galeria (2015); Museu Afro Brasil (2015); Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2014); 11ª Bienal de Dacar (2014).

Zózimo Bulbul (Rio de Janeiro, RJ, 1937 – Rio de Janeiro, RJ, 2013)
Cineasta, produtor e ator cuja carreira despontou no Cinema Novo brasileiro. Foi o primeiro protagonista negro em uma telenovela brasileira (1969). Insatisfeito com a representação da população negra no cinema, passou a escrever e dirigir seus próprios filmes, como Alma no olho (1974), Aniceto do Império (1981), Abolição (1988), Samba do trem (2000) e Pequena África (2002). Fundou o Centro Afro Carioca de Cinema (Rio de Janeiro, 2007) para promover a cultura afro-brasileira e seus artistas.