Rosângela Rennó
Uma das mais reconhecidas artistas contemporâneas brasileiras, Rosângela Rennó desenvolve intensa investigação sobre a natureza da imagem a partir da apropriação de acervos documentais e fotográficos. Daniela Bousso, curadora que assina ensaio sobre a artista para o FF>>Dossier 29, descreve sua obra como espécie de arquivo vivo: “arquivo como fonte de resgate da memória, para a construção da história e como estratégia de combate à amnésia”. Presente em importantes coleções públicas como a do Museo Nacional de Arte Reina Sofia (Madri, Espanha), do Guggenheim Museum (Nova York, EUA), da Tate (Londres, Reino Unido) e do Centre Pompidou (Paris, França), sua obra foi exibida nas bienais de Moscou (2011), Istambul (2011), São Paulo (2011, 1998 e 1994), Mercosul (2009 e 1997) e Veneza (2003 e 1993).
Canal VB: Rosângela Rennó fala sobre Vera Cruz durante o 13º Festival (2001)
Profundamente interessada na intertextualidade visual e na expansão da imagem fotográfica, a pesquisa de Rosângela Rennó avança naturalmente à imagem em movimento, conforme aponta a curadora, crítica de arte e jornalista Paula Alzugaray: “a experiência com o cinema também é uma condição inerente ao trabalho da artista.” Em 2000 a artista cria Vera Cruz, sua primeira obra em vídeo. Como outros trabalhos de Rennó, Vera Cruz se baseia no questionamento e na reinvenção da nossa abordagem da história. “A história está sempre ancorada nos documentos. Entretanto, qualquer investigação feita a partir de documentos antigos e vestígios de um tempo remoto é sempre lacunar. A história não está o tempo todo sendo revista e ampliada?”, questiona a artista em sua colaboração para a PLATAFORMA:VB.
Vera Cruz é um documentário impossível sobre o descobrimento. “O vídeo é baseado em impossibilidades: a impossibilidade do documentário e a impossibilidade do diálogo entre os portugueses e os índios no momento da descoberta”, conta a artista, que fez uso dos elementos descritivos da carta de Pero Vaz de Caminha para criar o infactível registro audiovisual da chegada dos colonizadores lusitanos ao Brasil e seu primeiro contato com os nativos. O desgaste simulado do filme testemunharia a ação do tempo sobre este documentário-ficção, do qual só teriam restado os sons da natureza e o relato em forma de legenda – a ausência de imagens proporciona uma abertura narrativa, e a riqueza de detalhes descritos aguça a imaginação do espectador.
Apresentado (e premiado) no 13ª edição do Festival, Vera Cruz foi produzido para a mostra Brasil + 500 – Mostra do Redescobrimento (Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo, 2000).
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